quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Picão preto e a cosmética


Quem já não se irritou ao caminhar no campo, numa trilha ou entre plantas e sair com a roupa pipocada de pequenos filamentos pretos, agarrados feitos carrapatos?
E não adianta dar tapinhas não, ele precisa ser arrancado com os dedos como se fosse uma pinça.
Trata-se da semente de uma planta cosmopolita comum em várias regiões do mundo- de nome botânico Bidens pilosa. 


Bidens pilosa é o famoso e indesejado Picão Preto, considerado uma planta invasora. Quando ele gruda em animais ou pessoas, este fruto, que abriga uma semente, tem a chance de ir para outros locais, às vezes longe dali, já que as pessoas e os animais conseguem se locomover. 
Mas essa planta tão desprezada no passado tem um valor imenso na atualidade, isso mesmo, além de medicinal, ela está sendo usada na cosmética. Atenção vaidosos de plantão, quando comprarem um creme a base de Bidens pilosa (picão preto), saibam que estão usando, nada mais nada menos que um maravilhoso produto feito de picão.

Novos mecanismos moleculares com ação contra flacidez e rugas descobertos no picão-preto (Bidens pilosa) resultaram em um ativo cosmético que funciona de forma semelhante ao retinol, sintetizado a partir da vitamina A. Premiado em 19 de outubro de 2011 como o melhor trabalho científico apresentado no 20º Congresso Latino e Ibérico de Químicos Cosméticos em Isla Margarita, na Venezuela, o projeto reuniu o conhecimento do farmacologista e fitobotânico Luiz Claudio Di Stasi, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu, e a experiência da empresa Chemyunion, de Sorocaba, ambas no interior paulista. 
Considerada uma espécie invasora no campo, mostrou em testes ter benefícios similares aos dos retinóides, receitados nos consultórios dermatológicos em razão do seu poder de regeneração celular e síntese de colágeno, mas sem os seus efeitos adversos, como irritação cutânea, descamação e ardência.
A inovação está sendo testada por uma indústria brasileira do setor de cosméticos e vem se somar a outras descobertas de ativos e aditivos vegetais feitas pela Chemyunion em parceria com universidades, transformados em produtos de reconhecidas empresas nacionais e internacionais, como Natura, O Boticário, L’Oréal, Estée Lauder, Victoria’s Secret, Johnson & Johnson e Medley, entre outras.

O estudo da dispersão do picão preto (fanerógamas) é a análise dos mecanismos e meios utilizados pelas plantas para que suas sementes alcancem os locais onde novas gerações podem ser estabelecidas. Uma vez maduras, as sementes precisam ser libertadas da planta-mãe e disseminadas de modo eficiente, para garantir a sobrevivência da espécie, evitando que haja acúmulo de descendentes em pequenas áreas (competição). Além disso, se as sementes se dispersarem por uma área mais ampla, aumentará a chance de que algumas caiam em terreno favorável à sua germinação. É por isso que eles grudam em quem passar por perto; para que sejam levados para longe e perpetuem a espécie.

Na cultura popular, há muito tempo o chazinho de picão-preto faz parte do arsenal contra hepatite. Também tem quem use contra icterícia em recém-nascidos e infecções urinárias e complicações do aparelho genital feminino. Mas a principal aposta de quem faz pesquisas em Farmanguinhos, o Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é no potencial contra a malária.

"Considero o picão-preto terapeuticamente promissor contra malária e, por enquanto, ainda não identificamos seus efeitos tóxicos, ou seja, é uma espécie candidata a gerar um medicamento com melhor desempenho do que as opções atuais"”, diz Leonardo Lucchetti, coordenador da pesquisa com a espécie em Farmanguinhos, ressalvando que o caminho até o medicamento chegar ao mercado é longo e depende de investimentos e testes. A planta já teve seu perfil químico avaliado, assim como alguns mecanismos de ação propostos. No entanto, tais informações não devem, ainda, ser reveladas, devido ao interesse na patente.


O picão preto tem muitas utilidades e se você quiser se ver livre dele, coma-o, pois a planta é muito nutritiva:
- tem boa quantidade de ferro, cálcio e pró-vitamina A, além de ser, como todas as verduras, rica em fibras, pobre em calorias e gorduras. 
- na medicina popular entre os índios da Amazônia é tida como remédio para angina, diabetes, disenteria, aftosa, hepatite, laringite etc. 
- muitos estudos farmacológicos recentes feitos mundo afora já comprovaram algumas propriedades. É, por exemplo, hepato-protetora e seu extrato mostrou-se inibidor da síntese de prostaglandina, ligada a dores de cabeça e doenças inflamatórias e isto não é pouca coisa. 
Se além de tudo isto, ainda é gostosa, por que não comemos mais picões que crescem livremente em jardins, roças e pomares? Tão rústico, não precisa de adubos nem de defensivos. Tão diferente daquelas alfaces frágeis que passam o diabo pra chegarem íntegras à nossa mesa. 

Cuidado, não é bom comer a planta, crua pois podem ter saponinas - outras plantas comestíveis também tem. Em excesso, estas substâncias podem ser irritantes para a mucosa intestinal. A planta deve ser usada em cozidos ou fervida com água e sal. O sabor é algo como folhas de cenoura, jambu e espinafre.
DICA: Depois de pular bastante e beber todas, enfie a cara numa tigela de sopa quente de picão, apimentada, revigorante e hepatoprotetora.

Curiosidade: George de Mestral, um suíço, saiu caminhando por um bosque europeu e após seu retorno percebeu que algo estava grudado em suas calças e no pêlo de seu cachorro. Eram carrapichos. Ele tentou desgrudar os carrapichos com um, dois, três tapas  e nada. Então ele pensou: "Ué, não tem cola na minha roupa, não tem cola no carrapicho, como é que isso gruda tanto?. Ele percebeu que era uma semente e possuía pequenos ganchos, que se agarravam ao tecido, criando uma conexão difícil de se romper. Pensou: "Eu posso construir um fecho que utilize esse mesmo princípio: um lado feito com ganchos, como os da semente, e o outro feito de veludo, como minhas calças." Ele deu à sua invenção o nome de Velcro: a mistura das palavras veludo e crochê, em suíço.

Mesmo tendo encontrado alguma resistência, George de Mestral, com a ajuda de um tecelão francês, conseguiu produzir algumas unidades. Após aperfeiçoado, o design foi patenteado na década de 50, e Mestral formou a "Velcro Industries", que hoje é uma empresa multimilionária.

Velcro