sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sementes Crioulas


Sempre que as famílias de agricultores se visitam, fazem a troca de mudas, sementes ou animais reprodutores. Essa prática era uma condição fundamental no melhoramento das espécies ou variedades de plantas e raças de animais. Quando um agricultor ou uma agricultora doa uma semente ou faz uma troca percebe-se um sentimento de realização, felicidade e expectativa em ambas as partes. Essa prática é cultural e faz parte da condição do “ser camponês”.

A humanidade produziu e se alimentou por mais de 10.000 anos através da prática dessas trocas. Porém, em apenas pouco mais de 50 anos, a produção de alimentos sofreu grandes transformações. O modelo industrial agroquímico aplicado no campo negou essas práticas populares de manutenção e melhoramento das espécies e raças classificando-as como atrasadas.

Certamente que a ciência e a tecnologia proporcionaram muitos avanços na área do melhoramento, mas teve um efeito negativo em relação à continuidade das espécies ou raças, e, ao negar a prática acima mencionada, criou-se alguns sérios problemas:

- Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo.

- Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também porque essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas.

- Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis a pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas – tanto os sistemas naturais como os cultivados.

- Crescente dependência de grande corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.

Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como por exemplo: milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abóbora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de SEMENTES  CRIOULAS.

As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie, como acontece nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais.
As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Elas são tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.

A disponibilidade e continuidade dessas sementes é virtude e missão da agricultura familiar/camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes e menos dependentes de insumos, são também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).

O futuro pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas.

Texto de Valdemar Arl
Engenheiro agrônomo e educador popular, especialista em agroecologia e desenvolvimento sustentável e, administração rural, mestre em agroecologia – doutorando em agroecologia – consultor autônomo; professor no Curso de Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroecologia da UnC/ Concórdia, SC.
Membro-fundador da Rede Ecovida de Agroecologia.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Melão Croá


O nome CROÁ deriva da língua indígena Guarani (A-CARA-IBÁ = “Fruta semelhante a batata do cará”).


Outros nomes populares: Fruta-mortadela, Jamelão, Cassabanana, Melão de cipó, Fruta-maracujá, cura, coróa, curua, uruba, cruatina, melão maçã, melão-caboclo ou melão-do-norte. Também chamado de Croá vermelho ou Croá roxo, dependendo da variedade.
Essas duas variedades ainda necessitam de estudos mais aprofundados.

- Sicana odorífera é o nome botânico do Croá Vermelho
- Sicana atropurpurea é o nome botânico do Croá Roxo

Família Botânica: Curcubitaceae (mesma familia da abóbora, pepino, melancia, melão)

Origem: Nativa da América Tropical, é uma espécie rara, pouco encontrada na natureza. As plantas atualmente cultivadas tiveram procedência do Pantanal no Mato Grosso do Norte e no Mato Grosso do Sul, Brasil.

É uma trepadeira rústica e muito vigorosa.
O fruto é uma baga elipsóide ou cilíndrica, medindo 30 a 60 cm de comprimento por 10 a 25 cm de diâmetro.
A casca é dura de cor laranja avermelhada ou roxa quando completamente madura e deve ser cortada, de preferência com faca de serra, pois há muita perda de suco se for quebrada. O fruto desprende aroma forte que lembra o cheiro do melão. A polpa é suculenta de cor amarela ou creme. Na cavidade central do fruto existe uma polpa suave com fibras que envolvem uma polpa aquosa e sementes achatadas, de coloração castanho com listas marrons. O miolo pode ser retirado com uma colher, junto com as sementes e peneirado. O suco tem uma espuma natural densa e pode ser bebido ou feito sorvetes. A polpa perto da casca é mais firme e mais cremosa e pode ser usada também em sucos, sorvetes, sopas geladas, cremes ou vitamina de frutas.
Os frutos também podem ser consumidos verdes e cozidos como legumes e utilizados em sopas guisados e conservas.
A fragrância dos frutos repele alguns insetos e no Sri-Lanka os nativos usam–no para perfumar roupas, casas e até altares religiosos em determinadas épocas festivas.

O fruto contém fibras, cálcio, fósforo, caroteno, tiamina, riboflavina, niacima e vitamina C.
Em Porto Rico, a polpa é cortada e mergulhada na água com açúcar durante a noite, em temperatura ambiente para fermentar e formar um licor que é ingerido com freqüência para aliviar a dor de garganta.
As sementes são usadas em infusão para febres, vermes e purgante.
As folhas são empregadas no tratamento de hemorragias uterinas e doenças venéreas.
Em Yucatán, uma decocção suave de folhas e flores (cuidar a dose porque produzem uma certa quantidade de ácido cianídrico), é prescrito como um laxante, vermífugo e emenagogo, sendo que as sementes também podem ser utilizadas para esse fim e além disso atuar na regulação do ciclo menstrual.

O melão croá é de fácil adaptação e pode ser cultivada em climas tropicais, temperados e subtropicais com temperaturas medias de 15 a 28 graus.
Vive bem em solos arenosos à argilosos, úmidos, com pH entre 5,0 a 6,6 e ricos em matéria orgânica
Pode ser cultivado desde o nível do mar até 1.800 metros de altitude, onde tenham um índice de chuva variando de 1.000 a 2.000 mm anuais.
Se cultivado em lugares com clima mais amenos no inverno e sem geadas, a planta sobrevive por 2 ou 3 anos, nesse caso deve-se fazer poda de todos os ramos com diâmetro inferior a 2 cm de diâmetro.
Adubar com composto orgânico, distribuídos no solo em duas seções, uma no inicio de outubro e o restante no mês de dezembro.
É necessário no mínimo 2 plantas para que ocorra uma polinização cruzada.As sementes devem ser retiradas de frutos maduros, despolpadas em água corrente em peneira e secas ao sol por 4 horas. As sementes secas e limpas podem ser armazenadas em frascos escuros por mais de 3 anos.
As mudas são formadas a partir de 4 a 5 sementes que devem ser plantadas diretamente em covas definitivas. A melhor época de plantio é de agosto a outubro. A germinação ocorre em 30 dias, espera-se mais 40 dias para selecionar a planta melhor e eliminar as outras. Irrigar semanalmente nos primeiros 3 meses, depois somente se faltar água na época da florada.

A estrutura onde será plantado o melão deve ser uma treliça bastante reforçada, com 4 mourões à 2 metros entre si e 1,60 m de altura, com 5 ou 7 arames ou taquaras espaçadas no sentido do comprimento.
Pode-se plantar perto de uma árvore para que a planta suba nessa, mas o peso do fruto pode quebrar os galhos da árvore, ou as grandes folhas e a grande quantidade de ramas pode sufocar a arvore.
Os frutos amadurecem nos meses de abril a agosto.
A planta pode também ser cultivada como ornamental.


Nossos Melões Croás na AFFESC






Flores Fêmea e Macho

Sicana odorífera = Croá Vermelho
Sicana atropurpurea = Croá Roxo